Procurando arquivos, acabei encontrando alguns vídeos de um time lapse que fiz há algum tempo. Embora tenha esquecido de filmar uma parte, editei e fiz um pequeno vídeo.
Friday, July 31, 2020
Friday, July 24, 2020
O Trabalho por trás da Ilustração
Como falamos no artigo Ilustrador – Compositor e Intérprete Ao Mesmo Tempo, entendemos que um ilustrador faz um composição artística quando produz uma ilustração.
Uma ilustração não é somente um desenho. Por trás de uma composição, há muito trabalho envolvido. Trabalho que o cliente – e a maioria das pessoas – não vê e às vezes nem sabe que existe.
Para começar, um ilustrador é que transmite, visualmente, uma ideia ou um conceito. Quando o cliente solicita uma ilustração, é necessário entender qual a mensagem que ele pretende transmitir aos seus leitores.
Você pode imaginar a complexidade em tentar produzir, visualmente, uma ideia que está na cabeça de outra pessoa? Transformar em visível aquilo que é abstrato, e nem é você quem está pensando?
Mais que ilustradores, somos criadores de imagens. Por mais que o cliente passe um briefing do que deseja, é o ilustrador que vai determinar a forma, as cores e o estilo de um personagem, por exemplo.
Vários aspectos fazem parte da concepção de uma ilustração. Precisamos entender o conceito que o cliente quer passar, captar o que está nas entrelinhas, fazer um interpretação do texto ou da ideia.
Além disso, a obra final precisa ser harmônica, transmitir não somente a mensagem, mas também emoções e sensações. É necessário analisar os aspectos da composição, os melhores pontos de vista para aquele determinado trecho da narrativa, o sentido de leitura que vai orientar o leitor, entre outras técnicas de composição que estudamos para que o resultado final da ilustração seja agradável aos olhos de nossos pequenos leitores.
Todo esse trabalho criativo nem sempre é considerado, e muitas vezes as pessoas nem tem ideia de que existe. E isso leva tempo.
Ilustradores são ‘tradutores’ e ‘intérpretes’ visuais.Ingrid Osternack
Para produzir uma ilustração, há que se pesquisar, pois não podemos desenhar algo que não conhecemos. Ainda que existam mundos imaginários, e possamos explorar nosso lado criativo nessas horas, há muitas histórias que se passam em lugares conhecidos. E mesmo os mundos imaginários tem inspiração em cenários reais. O tipo de cenário de um livro que se passa na Escandinávia é completamente diferente de um cenário no Caribe. E isso tem que ser levado em consideração. Por mais que tenhamos nossa “licença artística”, dependendo do trabalho que você faz, às vezes o cliente quer algo que seja verdadeiro. Mesmo pesquisando muito, já fiz ilustração com os protagonistas numa casa, quando eles tinham habitado numa tenda. Isso não dizia no texto, e mesmo ao pesquisar, esse detalhe escapou. O autor fez o comentário e modifiquei, uma vez que era um livro infantil baseado em uma história real.
Eu havia pesquisado bastante, e esse acontecimento me fez pesquisar ainda mais sobre os assuntos que costumo ilustrar. Isso demanda tempo e faz parte do processo de construção de uma ilustração. Uma vez publicado o livro, se erramos algo, fica marcado praticamente para sempre.
Outro aspecto são os rascunhos para concepção dos personagens. É preciso imaginar como cada personagem é e como ele se vestiria, e se comportaria tendo determinada personalidade.
É óbvio que algumas pessoas pensam que os computadores fazem tudo. Minhas ilustrações não são digitais, mas alguns clientes imaginam que são os softwares que fazem todo o trabalho. Que é rápido e não requer nenhuma habilidade. Mas tanto as tintas quantos os softwares são apenas instrumentos, assim como também é um fogão para um chef de cozinha. Uma pessoa com habilidade e criatividade na cozinha faz pratos maravilhosos, enquanto outra pessoa, mesmo que tenha um fogão mais novo, com mais recursos e mais tecnologia, pode vir a não fazer sequer um ovo cozido.
Também é assim com o ilustrador: não basta ter todos os instrumentos, se faltam ideias, técnicas, habilidades, criatividade, inovação e até mesmo vontade. Sim, diria que ter vontade é 50% do trabalho. Porque para começar, a gente tem que ter vontade de fazer. Meu irmão costuma usar a frase: “Quem quer, arruma um jeito, quem não quer, arruma uma desculpa”. Muitas vezes, e me incluo nisso, não realizamos o que queremos porque ficamos protelando, dizendo que não temos tempo, que não é a melhor hora, que não temos recursos, que não sabemos nem por onde começar. Quantas vezes já usei essas desculpas…
Li há alguns dias que, se sonhamos acordados com alguma coisa, só o fato de imaginar já deixa a gente feliz. E é por isso que não tomamos atitudes diante do que queremos fazer. Não sei, de fato, se é assim, mas explicaria a razão da gente procrastinar e esperar o momento certo pra agir em favor de nossa realização profissional.
Mas voltando ao nosso tema, ser ilustrador requer muito mais que saber unir linhas e formas. É preciso ter noções de desenho, conhecer técnicas, materiais adequados, conhecer algumas regras de composição, e até mesmo definir o que se quer. Embora eu use o computador, tenha uma mesa digitalizadora e softwares para desenho, gosto de usar materiais artísticos para fazer minhas ilustrações. Isso acontece porque eu optei por isso e decidi que esse seria o meu jeito de fazer ilustrações. Faz parte do meu estilo. Não faço isso porque não sei usar os softwares, mas porque quero exercer a minha profissão utilizando os materiais que me agradam.
Algumas características que são valorizadas num ilustrador:
. compreender as necessidades e ideias do cliente
. entender sobre o nicho ou público que será atingido pelo mensagem da ilustração
. desenvolver ideias visuais para acompanhar a narrativa, que atendam às expectativas do cliente (editor ou autor)
. ter habilidades de desenho e da técnica escolhida para execução do trabalho
. cumprir metas e prazos
. entregar o trabalho conforme a solicitação do cliente (resolução, tipo de arquivo, etc)
Além disso, é imprescindível ter noções de administração, contabilidade, direito e marketing.
Antigamente, o ilustrador enviava os originais para a editora, que fazia todo o restante. Atualmente, o trabalho do ilustrador se expandiu de tal maneira, que às vezes enviamos tudo pronto, ajudamos a divulgar o livro, e a gerar a expectativa antes mesmo do lançamento da obra.
Concluindo, ser ilustrador não é apenas ser um desenhista. Desenhar é, sim, muito importante, mas é apenas uma parte. É necessário saber contar ideias visualmente, ser curioso, aprender mais sobre cultura, querer ter mais conhecimento, aprimorar-se sempre, desenvolver seu estilo e, principalmente, ter o desejo de criar. 🙂
Friday, July 17, 2020
Ilustrador – Compositor e Intérprete ao Mesmo Tempo
Existe um ditado em inglês que diz:
Comparison is the thief of joy. (Comparação é o ladrão da alegria)
O significado dessa frase é que, se você comparar seu trabalho com o de outros artistas, certamente ficará desmotivado. Mas será isso mesmo?
Um fato ao qual temos que nos acostumar é que – SEMPRE – vai ter alguém melhor e alguém pior do que nós. Só que aí eu pergunto: quem define o que é melhor ou pior?
Todos temos gostos diferentes e, o que uma pessoa gosta pode ser totalmente diferente do que outra gosta. Então, dizer que algo é melhor ou pior depende muito de quem avalia. Cada um tem seu gosto e vejo que, aquilo que uma pessoa acha lindo, outra acha muito feio. Uma vez estava com uma colega num museu em Veneza, numa visita da minha turma da Accademia – onde estudei – e eu estava admirando um quadro impressionista. Acho linda a combinação de cores, a alegria que transmite... E ela olhou e disse: “Acho muito sem graça esses quadros impressionistas. Quem viu um, já viu todos”. Enfim, a beleza está nos olhos do expectador.
Voltando à comparação, vejo que há vantagens e desvantagens em comparar seu trabalho com o de outras pessoas.
As desvantagens são que você pode achar que o seu trabalho não é tão bom e acabar desanimando, deixando de desenhar e consequentemente, de progredir. Afinal, só praticando é que vamos melhorar nosso trabalho. Entretanto, somente prática não basta. Se assim fosse, todos os cozinheiros do dia a dia já seriam chefs premiados, e todos os motoristas já teriam ganho a Fórmula 1. É também preciso aprender técnicas, aprender a ver, ser humilde e reconhecer que, por mais que alguém esteja no topo, daqui a pouco esse lugar será ocupado por outro. Não é assim todo ano? Quase todas as áreas tem o seu prêmio anual e alguém é considerado o melhor do ano (jogadores de futebol, chefs, ilustradores...)
Quando você observa e analisa ilustrações de outros artistas, pode aprender muita coisa. Não é à toa que pintores franceses - hoje famosos - ficavam no Louvre copiando quadros dos grandes mestres. Vale ressaltar que não estou falando de plágio. O plágio é crime e deve ser tratado como tal.
Quando alguém começa a aprender a tocar um instrumento, não fica inventando. As composições que toca foram feitas por outras pessoas. Se os músicos aprendem tocando algo que foi feito por outra pessoa, os artistas aprendizes costumam ser mal falados quando tentam desenhar algo que inspirado em outro artista.
Acho que é porque, quando você toca uma música, ela desvanece imediatamente. Mas quando desenha, fica no papel praticamente uma prova de que você desenhou algo inspirado em outro artista. Em ‘artists statements’ – declarações de artistas – é praticamente um requisito escrever quais outros artistas influenciaram o seu trabalho.
A verdade é que, mesmo inconscientemente, vários artistas incorporam ao seu estilo o que vêem e lhes agrada em outros trabalhos. Os indivíduos são fruto do seu meio, portanto, eles também receberam influências de outras pessoas. Se formos observar artistas conforme sua nacionalidade, fica evidente a influência de cada cultura na sua obra. Isso não quer dizer que o artista não inventa nada, mas ele pega trechos de influências que recebeu e cria algo “novo”. É como uma receita: você pode inventar o modo de fazer, mas quem criou os ingredientes (batata, cenoura, carne, etc) foi o Criador. E mesmo a manteiga, invenção humana, utiliza a criação de outra Pessoa – o leite – para que seja feita. Eu aconselho, porém, que evite copiar, mas tente produzir algo que seja somente seu.
Então, na verdade, somos todos criadores interligados. Criamos com materiais criados por outras pessoas, técnicas desenvolvidas por outras pessoas, e com base no que aprendemos com (ou de) outras pessoas. Fica mais que evidente que isso quer dizer que dependemos uns dos outros, não só para viver em sociedade, mas para progredirmos. E é por isso que temos também a obrigação, a meu ver, de ensinar o que aprendemos. Se o que sabemos hoje aprendemos com alguém, também não devemos reter o conhecimento que temos. Mesmo quem acha que sabe pouco tem alguém a ensinar.
Estamos numa fase onde as pessoas estão procurando não só um trabalho pra sobreviver, mas algo que lhes dê satisfação, que tenha propósito. E estamos no começo de uma nova era, onde você não precisa nem sair de casa para aprender.
Pensando em tudo isso que discutimos, será que é por isso que as pessoas tem tanto medo de começar sua carreira como artista? Será que tem medo de serem consideradas meras cópias de outros? Será que estão aguardando o “momento certo” para começar? A vida vai passando, e quando a gente vê, achamos que não dá mais tempo. Mas não precisa ser assim (veja essa postagem).
Sobre aprender observando ilustrações de outros artistas, considero um assunto polêmico, pois depende de cada pessoa que está aprendendo, e a linha entre inspiração e plágio pode ser muito sutil, ainda mais no mundo atual, onde o certo e o errado já se tornaram relativos...
Enfim, pra finalizar quero deixar uma frase que meu marido me disse, ao discutirmos sobre tudo isso que falamos acima:
Um ilustrador é o compositor e o intérprete de uma obra, simultaneamente.
(Frase de Alexandre Barros Neves, designer de produto).
O ilustrador compõe e materializa a sua ideia, praticamente ao mesmo tempo. Enquanto desenha, está compondo e colocando no papel a sua ideia, a sua obra. E diferentemente do que dizem as pessoas, que ficar desenhando pode ser fácil, é preciso tempo, esforço e dedicação para poder transformar ideias em imagens. E sobre isso, tenho mais a falar, mas fica para a semana que vem. ;-)
Bom final de semana (em casa)!
Friday, July 10, 2020
Mateiriais que Utilizo - Papéis
Todo desenhista ou artista fica fascinado pelos tipos de papel que existem. Tipos de superfície, gramatura, material com o qual é feito, enfim, existe uma infinidade de papéis para pintura, e vou falar sobre os que eu uso e sobre os que eu encontro aqui no Brasil.
Embora eu utilize mais acrílico para minhas composições, geralmente compro papel para aquarela. Por quê?
Porque o papel para aquarela é especialmente preparado para receber grande quantidade de água ou tinta bem molhada.
Você já deve ter notado que, quando pinta com tinta sobre um papel muito fino, ele fica todo ondulado. Veja a foto:
Isso geralmente acontece porque a gramatura desse papel não é adequada para receber essa quantidade de água.
Mas o que é essa tal de gramatura?
Os tipos de papel são classificados segundo o seu peso por metro quadrado. Então, quando você for comprar um papel, ou mandar imprimir algo na gráfica, você precisa definir o tipo de papel que vai querer segundo o acabamento da superfície e a gramatura (peso/m2).
Os papéis, em geral, são diferenciados pela gramatura. 120g/m2, 180 g/m2, 300 g/m2, 400 g/m2 e até 640g/m2.
Para desenho, recomenda-se o uso de papéis com 160 ou 180 g/m2. Você vai ver isso na face do bloco ou na própria embalagem. Veja:
Para aquarela, o papel tem que ter no mínimo 300 g/m2. De fato, eu já utilizei papel dessa gramatura e, mesmo assim, o trabalho ficou ondulado. A cidade onde moro é muito úmida, e isso afeta também. Mas não é só isso: as marcas também desempenham papel importante nisso.
Quanto às superfícies, há aqueles que tem textura fina, textura acetinada, textura rugosa… tem até textura ‘flocos de neve’. Depende do artista a escolha da textura e também do seu objetivo final. Eu gosto tanto de papéis lisos quanto com textura, mas especialmente desse papel (veja abaixo) que tem uma textura em que as tramas parecem quadriculadas. Esse, na verdade, é um papel 300g/m2, mas para técnicas mistas, inclusive acrílico. Não é um papel específico para aquarela. Mas é um papel maravilhoso!
Existem papéis também feitos de algodão, com as bordas não retilíneas, e são considerados os melhores para aquarela. Comprei alguns há alguns anos e confesso que tenho até pena de usar. Rsrs…
Enfim, existem inúmeros tipos e marcas de papel, e eu os considero, sem nem mesmo terem sido tocados, como verdadeiras obras de arte. De fato, alguns papéis são feitos de tal modo e com tal cuidado que parecem obras de artesão.
Porém, aqui no Brasil nossas escolhas são limitadas, e não somente devido à falta de todos esses tipos de papel. A verdade é que, mesmo que a gente encontre tais papéis especiais, o custo deles é proibitivo. Há folhas de papel que custam muito e não são comercialmente viáveis para o ilustrador.
Eu uso, quase sempre, papel A3. Prefiro trabalhar com as ilustrações sempre um pouco maiores do que serão impresas. No momento, estou usando o papel para aquarela da Daler Rowney, 300g/m2, porque comprei dois blocos econômicos e tenho ainda bastante folhas. Ele é prensado a frio, a textura da superfície é mais fina e sem ácido (não amarela com o tempo).
Quando eu não encontro esse, costumo comprar o que tem melhor custo/benefício. Geralmente o Canson 300g/m2, que costuma ter o melhor preço por unidade. É preciso verificar na embalagem não só a gramatura, como também a quantidade de folhas que vem e as dimensões.
Importante: esses papéis artísticos são caros. Então, reserve para suas ilustrações finais. Se for fazer esboços, utilize papéis comuns e só depois passe o seu rascunho para os papéis especiais.
Abaixo algumas sugestões de papel que encontro no momento, com melhor custo x benefício.
Para aquarela:
Para técnicas mistas, acrílico, colagem, pastel, etc:
Bom final de semana!
Friday, July 3, 2020
Subscribe to:
Posts (Atom)