Friday, February 22, 2019

Concursos de Ilustrações: Vale a pena participar?

Quando estamos começando na carreira de ilustrador, procuramos toda oportunidade possível para mostrar nosso trabalho. Por isso, uma das oportunidades que existem para isso são concursos literários e de ilustração.

Participar de concursos é interessante por vários motivos:

. ficar conhecido;
. se formos selecionados, sentimos que o nosso trabalho foi admirado e tem valor;
. fazer contatos;
. trabalhar com um briefing e datas de entrega;
. conhecer outros trabalhos;
. entender as tendências;
. e até se renovar ao observar outros trabalhos, gerando insights e novas ideias.

Outra vantagem é que aprendemos a ter resiliência. Todo trabalho autônomo requer muita disciplina e resistência. O que quero dizer é que nem sempre nosso trabalho será aceito e teremos que estar preparados para aceitar isso. Às vezes um trabalho de menor qualidade pode vir a ser selecionado, somente porque era a tendência daquele ano ou porque era conveniente que tal ilustrador fosse escolhido. Triste para tantos outros que estavam competindo, mas infelizmente isso acontece em todas as áreas.

Há alguns anos um livro infantil foi premiado aqui no Brasil e causou indignação a alguns escritores e ilustradores. Uma celebridade fez uma seleção de textos de outros escritores e publicou um livro onde as ilustrações eram feitas por ela, embora não fosse ilustradora. O argumento era de, enquanto tantos outros escritores fazem o possível para produzir textos inovadores e de qualidade, o texto não era dela e que só ganhou o primeiro prêmio por ser uma pessoa famosa.

Como os jurados mudam todo ano, também há as preferências pessoais. E muitos concursos já mencionam que a decisão deles é soberana e que todos os participantes, ao entrar no concurso, devem aceitá-la. Não há como recorrer.

Como estudei na Itália, vou começar pelo concurso mais importante de lá: a Feira de Bolonha. Eu diria que é a feira literária mais importante do país. Todo ano eles promovem um concurso onde você envia cinco ilustrações e elas podem ser selecionadas para a mostra e uma das ilustrações apresentadas será a capa do catálogo. No ano passado o prêmio foi de 15 mil dólares, como um adiantamento para ilustrar um livro infantil para a Edições SM (para ilustradores com idade inferior a 35 anos). Outro prêmio foi uma bolsa de estudos da escola de ilustração ARS IN FABULA (para ilustradores com idade inferior a 30 anos). Ilustradores do mundo todo podem participar do concurso. Mais informações veja aqui.

Outro concurso interessante é o Nami Island, da Coréia do Sul. O primeiro prêmio é de 10 mil dólares, a ilustração no catálogo e mostra. Deve-se enviar 5 a 10 ilustrações, que contem uma história. Um ilustrador brasileiro ganhou esse prêmio há alguns anos. Não há taxa de inscrição. Para mais informações, clique aqui.

 Em Portugal, há um dos concursos mais importantes da Europa. Acontece a cada dois anos e o prêmio é de 5.000 euros. Clique aqui e leia tudinho em português. J

 Nos Estados Unidos, um dos concursos mais conhecidos é o da Society of Illustrators. Há uma taxa de inscrição e o prêmio são medalhas e a publicação no catálogo. Leia mais aqui.

 No Brasil, ilustradores geralmente enviam suas obras para o Salão do Humor de Piracicaba. São aceitos cartuns, charges, tirinhas e caricaturas. Mais informações aqui.

Muitos concursos de ilustração infantil estão ligados a uma obra literária. Nesse caso, posso citar ainda os concursos da SM, da Kalandraka e Biblioteca Insular de Gran Canaria.

São milhares de ilustradores que participam todo ano. Mas mesmo que o ilustrador não seja selecionado, a participação é uma experiência enriquecedora. Além de ser um gostoso desafio, se for selecionado - ou até mesmo ser o primeiro colocado -  significará um grande salto na carreira.

Por outro lado, existem associações e editoras que podem se aproveitar da situação. Por isso, é importante saber discernir quais valem a pena e quais não.

Um exemplo de um concurso que não vale a pena é quando uma associação cobra uma taxa de valor alto para participar e o prêmio não faz jus a essa taxa. Muitos concursos não cobram nada, portanto é necessário ficar de olho para saber se é um concurso ‘sério’ ou alguma instituição querendo se aproveitar.

Outro exemplo que já vi acontecer é quando uma editora tenta fazer um ‘concurso’ para que os ilustradores disputem quem vai ilustrar um livro ou fazer uma capa, mas não oferecem pagamento em troca. Temos que ficar atentos para não trabalhar de graça. Já fui convidada para um concurso assim. Felizmente associações de escritores e ilustradores enviaram cartas de repúdio e a editora retirou o concurso rapidinho. A desculpa para promover o concurso era de que eles gostavam tanto do trabalho de todos os ilustradores que não sabiam qual convidar. Imaginem quantas ilustrações iriam receber de graça. A intenção era que os ilustradores se sentissem pagos pela honra de terem suas ilustrações publicadas. É o mesmo que comer num restaurante e dizer ao dono que ele deveria ficar feliz que escolhemos o restaurante dele para almoçar.

A editora poderia até argumentar que o ilustrador está tendo ‘exposição’. Porém, uma atitude assim vem a desvalorizar a nossa profissão e pode prejudicar a todos, principalmente quem está começando.
A ilustração é fundamental num livro infantil. E isso mostra o quanto o trabalho do ilustrador é importante. Já imaginou livros infantis sem ilustração?

Dica: uma editora que promova um concurso de livro ilustrado deve premiar o ilustrador com um valor correspondente ao trabalho de ilustrar uma obra. Um exemplo é o citado acima, da SM, que antecipa 15.000 dólares para o premiado, e o mesmo irá ilustrar um livro infantil.

Cuidado também com as associações desconhecidas ou sem relevância que dizem que você foi premiado e irá receber uma condecoração. Basta pagar o diploma, ou taxa “x”, no valor de algumas centenas de reais. Associações sérias são as que promovem eventos e nas quais você não paga nada ou uma taxa simbólica para participar.

Um último conselho: ao enviar ilustrações, verifique antes se são necessários os originais ou uma cópia. Antigamente eram aceitos somente os originais das ilustrações. Mas com o advento das ilustrações digitais, os concursos decidiram receber imagens via email, site ou até mesmo impressões. Caso sejam selecionadas, aí sim alguns solicitam os originais.

Em minha experiência, já enviei originais e recebi vários de volta, alguns cuja expedição foi paga pela instituição e outros que eu mesma tive que pagar. Em uma mostra, enviei três ilustrações. Duas foram selecionadas e a terceira nunca foi encontrada. O pessoal da mostra sequer havia visto a outra ilustração, o que me faz crer que devem ter retirado as duas primeiras e jogado o envelope fora com a outra. E como já estive lá pessoalmente, vi na sala deles que havia centenas de ilustrações que nunca tinham sido devolvidas e que seria muito difícil encontrar alguma coisa. Felizmente eu tinha fotografado a ilustração antes de enviar.

Caso tenha alguma dúvida ou quiser alguma opinião sobre o regulamento de algum concurso, fique à vontade para entrar em contato. 😉

Friday, February 15, 2019

O desafio do tempo e o trabalho criativo

Uma das coisas que me surpreende é o quanto a gente consegue fazer quando estamos empenhados. Aqui no blog já falei algumas vezes sobre produtividade. Parece uma coisa que não tem nada a ver com ilustração, mas é algo que me interessa bastante. Acredito que tudo na vida precisa de equilíbrio e por isso que valorizo o tempo em que estou ilustrando. Quero também poder curtir minha família, os eventos, tempo com os amigos, viajar, descansar...

Esse último mês fiz muuuuitas ilustrações. Para um só livro, fiz 26, além ainda de outras 5 para dois projetos futuros, mas que tinham que ser feitas ainda este mês. Para alguns pode parecer pouco, mas quando você trabalha com técnicas tradicionais de pintura, leva um certo tempo para produzir uma ilustração. Nos Estados Unidos, por exemplo, há ilustradores que levam 6 meses para produzir essa mesma quantidade. Isso não quer dizer que todo trabalho que eu faço seja assim. Às vezes tenho bastante tempo para uma quantidade bem menor.



Como todo mundo, às vezes a gente sabe que tem tempo e fica deixando para a última hora. Não é à toa que existem tantos livros ensinando a 'vencer a procrastinação'. Rsrs...

Eu estou sempre tentando ser mais produtiva, e estudo bastante o que posso fazer para melhorar (às vezes até penso que 'estudar' também é um jeito de procrastinar). Uma coisa que eu gosto muito é de sempre fazer 'um pouquinho a mais'. Acredito que devemos sempre nos desafiar. Com isso não estou falando de fazer algo muito grande. Costumo dizer a meus filhos: se você tem uma tarefa grande, não fique estressado. Divida em partes e faça cada dia um pouquinho. Se for um livro, um capítulo (ou até uma página) é melhor que nada. Se tem um grande trabalho de escola, que tal dividir em partes e destinar um trecho para cada dia?

Eu gosto de fazer um planejamento, divido em algumas partes e vou fazendo um pouco a cada dia. Funciona bem para mim. E foi assim que planejei o meu tempo, não deixando de fazer ainda as outras atividades que tinha todos os dias.

Para fazer uma ilustração, não basta só desenhar. É preciso ler o texto, entender se há algo que o autor quis dizer ou se fez referência a algum outro tema, pensar no que vai desenhar, esboçar, imaginar o que a criança vai interpretar... Depois de terminar o esboço (ou rafe), aí começa o trabalho da pintura, que é a parte mais divertida, na minha opinião. Se bem que às vezes eu gosto muito do desenho em preto e branco também. 😄 Mas o ato de deslizar o pincel sobre o papel traz uma satisfação muito grande para mim.

O trabalho do ilustrador parece fácil para quem está olhando de fora. Como brincam meus filhos: 'você fica desenhandinho o dia todo'. Mas a verdade é que o nosso trabalho é um trabalho de criação. Ilustrar é um trabalho criativo, portanto o ilustrador é um 'criador' de algo. Você consegue imaginar que privilégio? Temos a tarefa de inventar alguma coisa que, até então, não existia. Através de papel, lápis, tintas e também do computador, podemos dar vida a personagens que vão entreter, divertir, levar a questionamentos, encorajar, inspirar, despertar emoções e até mudar vidas. Uma responsabilidade e tanto. E que honra, não?

Ontem ainda comentei com uma amiga que a vida para mim é como um punhado de areia na minha mão. Os anos vão escorrendo e eu fico pensando que 24 horas no dia é pouco para tudo que desejo fazer. Por isso a produtividade é algo que me fascina. Nós, trabalhadores criativos, somos aqueles que não se contentam em ficar na rotina, fazendo sempre a mesma coisa. Às vezes queremos mudar o mundo, às vezes deixar nossa marca, às vezes só queremos produzir algo e ter a satisfação de saber que 'foi feito por mim'.

Por isso, embora o tempo às vezes seja escasso, ainda assim sabemos que o nosso trabalho vai impactar muitas pessoas. E isso não é maravilhoso?



Friday, February 8, 2019

Ilustração para Livro Infantil


Estes últimos dias tenho trabalhado muuuito! E fico muito feliz com isso. É muito interessante poder criar alguma coisa. O trabalho criativo é muito recompensador.

Essa ilustração acima fiz para um livro infantil baseado na história - real! - de uma menina que era filha de uma catadora de papéis. Um dia ela ouviu crianças ensaiando numa sala e foi ver o que era. E era um trabalho voluntário, cujo objetivo era transformar vidas através do ensino da música. Logo ela estava ensaiando com eles. Mas não vou contar o resto, para não perder a graça. 😉

Friday, February 1, 2019

O Livro Infantil – 14 dicas básicas

Depois de alguns anos ilustrando, fico me lembrando de que, quando eu comecei nessa área de atuação, havia muitas coisas que não sabia.  Foi mais ou menos como aprender a dirigir. No começo a gente fica prestando atenção em todos os detalhes, como virar a chave, pressionar a embreagem... olha um monte de vezes no retrovisor, olha para a marcha para engatar, coloca a seta para virar mas acaba ligando a luz alta... Mas, depois de algum tempo, a gente faz tudo no automático e pensa: nossa, nem sei como cheguei em casa.

Assim também acontece com algumas informações do livro que no começo eram, pelo menos para mim, muito misteriosas. Isso acontece porque as faculdades ensinam história da arte, anatomia, metodologias, etc... mas não ensinam a gente a se posicionar no mercado de trabalho, a fazer um livro, a negociar, etc...

Vou mencionar aqui algumas dicas do que levei um tempo pesquisando quando comecei:

1. O livro infantil geralmente tem o número de páginas múltiplo de 8. Isso para aproveitar melhor o papel e também para formar os ‘cadernos’. Livros com 16, 24 ou 32 páginas são os mais comuns. Informação importante para quando você for planejar um livro do início ao fim.

2. A história não começa na página 1. Observe os livros infantis (em casa ou na livraria). Na primeira página geralmente vem a folha de rosto, na página 2 a Ficha Catalográfica, às vezes tem também dedicatória ou sumário. Às vezes, não. Nesse caso, o livro começa na página 3. E não é costume inserir número de página na folha de rosto.

3. Também não há necessidade de preencher todas as páginas com ilustrações, nem tampouco fazer todas do mesmo tamanho.

4. Ao planejar as ilustrações, pense na quantidade de texto que irá em cada página.

5. Se houver algum suspense ou surpresa na história, vale a pena planejar para que a ilustração fique numa página par (ou à esquerda), a fim de que o leitor não veja antes de virar a página.

6. O texto também pode fazer parte da ilustração. Ao diagramar, podemos deformar ou mudar a fonte de modo que também essa demonstre o que acontece no livro.



7. Quando planejar um personagem, fazer o possível para que seja consistente em todas as páginas e reconhecível. No livro infantil (para crianças bem pequenas) as expressões podem ser mais simples. À medida que as crianças ficam maiores, aí sim as ilustrações podem ser mais elaboradas.

8. Você já deve ter notado que roupas de alguns personagens ‘pararam no tempo’. Isso se deve ao fato de que o livro dura muitos anos e alguns ilustradores preferem que o livro seja ‘atemporal’.

9. Quando montar a sua ‘boneca’ do livro, observar as páginas que ficam bem no meio do livro. Como muitos livros infantis são grampeados, vale a pena observar para que essas ilustrações combinem entre si, ou até mesmo que formem uma ‘grande’ ilustração dupla.

10. Ao ilustrar para uma editora, é bom obter aprovação dos roughs por escrito (via email) antes de finalizar as mesmas.

11. Ler e reler o texto para evitar pintar de marrom os cabelos da ‘princesa de cachos dourados’. 😀

12. Observe os formatos dos livros infantis. É mais comum um formato quadrado ou ‘paisagem’ que formato ‘retrato’.

13. Uma ilustração não precisa seguir anatomia nem perspectiva.

14. Ao finalizar as ilustrações, eu costumo guardar as mesmas em plásticos apropriados ou em papel de seda. Isso evita que borrem ao encostarem umas nas outras. Você também não precisa enviar seus originais para a editora. Pode combinar isso na hora de negociar.

Se tiver alguma dúvida, entre em contato!