Quando
estamos começando na carreira de ilustrador, procuramos toda oportunidade
possível para mostrar nosso trabalho. Por isso, uma das oportunidades que existem
para isso são concursos literários e de ilustração.
Participar
de concursos é interessante por vários motivos:
. ficar
conhecido;
. se formos
selecionados, sentimos que o nosso trabalho foi admirado e tem valor;
. fazer
contatos;
. trabalhar
com um briefing e datas de entrega;
. conhecer
outros trabalhos;
. entender
as tendências;
. e até se
renovar ao observar outros trabalhos, gerando insights e novas ideias.
Outra
vantagem é que aprendemos a ter resiliência. Todo trabalho autônomo requer
muita disciplina e resistência. O que quero dizer é que nem sempre nosso
trabalho será aceito e teremos que estar preparados para aceitar isso. Às vezes
um trabalho de menor qualidade pode vir a ser selecionado, somente porque era a
tendência daquele ano ou porque era conveniente que tal ilustrador fosse escolhido.
Triste para tantos outros que estavam competindo, mas infelizmente isso
acontece em todas as áreas.
Há alguns
anos um livro infantil foi premiado aqui no Brasil e causou indignação a alguns
escritores e ilustradores. Uma celebridade fez uma seleção de textos de outros
escritores e publicou um livro onde as ilustrações eram feitas por ela, embora
não fosse ilustradora. O argumento era de, enquanto tantos outros escritores
fazem o possível para produzir textos inovadores e de qualidade, o texto não era
dela e que só ganhou o primeiro prêmio por ser uma pessoa famosa.
Como os
jurados mudam todo ano, também há as preferências pessoais. E muitos concursos
já mencionam que a decisão deles é soberana e que todos os participantes, ao
entrar no concurso, devem aceitá-la. Não há como recorrer.
Como
estudei na Itália, vou começar pelo concurso mais importante de lá: a Feira de
Bolonha. Eu diria que é a feira literária mais importante do país. Todo ano
eles promovem um concurso onde você envia cinco ilustrações e elas podem ser
selecionadas para a mostra e uma das ilustrações apresentadas será a capa do
catálogo. No ano passado o prêmio foi de 15 mil dólares, como um adiantamento
para ilustrar um livro infantil para a Edições SM (para ilustradores com idade
inferior a 35 anos). Outro prêmio foi uma bolsa de estudos da escola de
ilustração ARS IN FABULA (para ilustradores com idade inferior a 30 anos).
Ilustradores do mundo todo podem participar do concurso. Mais informações veja aqui.
Outro
concurso interessante é o Nami Island, da Coréia do Sul. O primeiro prêmio é de
10 mil dólares, a ilustração no catálogo e mostra. Deve-se enviar 5 a 10
ilustrações, que contem uma história. Um ilustrador brasileiro ganhou esse
prêmio há alguns anos. Não há taxa de inscrição. Para mais informações, clique
aqui.
Em
Portugal, há um dos concursos mais importantes da Europa. Acontece a cada dois
anos e o prêmio é de 5.000 euros. Clique aqui e leia tudinho em português. J
Nos Estados
Unidos, um dos concursos mais conhecidos é o da Society of Illustrators. Há uma
taxa de inscrição e o prêmio são medalhas e a publicação no catálogo. Leia mais
aqui.
No Brasil,
ilustradores geralmente enviam suas obras para o Salão do Humor de Piracicaba. São
aceitos cartuns, charges, tirinhas e caricaturas. Mais informações aqui.
Muitos
concursos de ilustração infantil estão ligados a uma obra literária. Nesse
caso, posso citar ainda os concursos da SM, da Kalandraka e Biblioteca Insular
de Gran Canaria.
São
milhares de ilustradores que participam todo ano. Mas mesmo que o ilustrador
não seja selecionado, a participação é uma experiência enriquecedora. Além de
ser um gostoso desafio, se for selecionado - ou até mesmo ser o primeiro
colocado - significará um grande salto
na carreira.
Por outro
lado, existem associações e editoras que podem se aproveitar da situação. Por
isso, é importante saber discernir quais valem a pena e quais não.
Um exemplo
de um concurso que não vale a pena é quando uma associação cobra uma taxa de
valor alto para participar e o prêmio não faz jus a essa taxa. Muitos concursos
não cobram nada, portanto é necessário ficar de olho para saber se é um
concurso ‘sério’ ou alguma instituição querendo se aproveitar.
Outro
exemplo que já vi acontecer é quando uma editora tenta fazer um ‘concurso’ para
que os ilustradores disputem quem vai ilustrar um livro ou fazer uma capa, mas
não oferecem pagamento em troca. Temos que ficar atentos para não trabalhar de
graça. Já fui convidada para um concurso assim. Felizmente associações de
escritores e ilustradores enviaram cartas de repúdio e a editora retirou o
concurso rapidinho. A desculpa para promover o concurso era de que eles
gostavam tanto do trabalho de todos os ilustradores que não sabiam qual convidar.
Imaginem quantas ilustrações iriam receber de graça. A intenção era que os
ilustradores se sentissem pagos pela honra de terem suas ilustrações
publicadas. É o mesmo que comer num restaurante e dizer ao dono que ele deveria
ficar feliz que escolhemos o restaurante dele para almoçar.
A editora
poderia até argumentar que o ilustrador está tendo ‘exposição’. Porém, uma
atitude assim vem a desvalorizar a nossa profissão e pode prejudicar a todos,
principalmente quem está começando.
A
ilustração é fundamental num livro infantil. E isso mostra o quanto o trabalho
do ilustrador é importante. Já imaginou livros infantis sem ilustração?
Dica: uma
editora que promova um concurso de livro ilustrado deve premiar o ilustrador
com um valor correspondente ao trabalho de ilustrar uma obra. Um exemplo é o
citado acima, da SM, que antecipa 15.000 dólares para o premiado, e o mesmo irá
ilustrar um livro infantil.
Cuidado
também com as associações desconhecidas ou sem relevância que dizem que você foi
premiado e irá receber uma condecoração. Basta pagar o diploma, ou taxa “x”, no
valor de algumas centenas de reais. Associações sérias são as que promovem
eventos e nas quais você não paga nada ou uma taxa simbólica para participar.
Um último
conselho: ao enviar ilustrações, verifique antes se são necessários os
originais ou uma cópia. Antigamente eram aceitos somente os originais das
ilustrações. Mas com o advento das ilustrações digitais, os concursos decidiram
receber imagens via email, site ou até mesmo impressões. Caso sejam
selecionadas, aí sim alguns solicitam os originais.
Em minha
experiência, já enviei originais e recebi vários de volta, alguns cuja
expedição foi paga pela instituição e outros que eu mesma tive que pagar. Em
uma mostra, enviei três ilustrações. Duas foram selecionadas e a terceira nunca
foi encontrada. O pessoal da mostra sequer havia visto a outra ilustração, o que
me faz crer que devem ter retirado as duas primeiras e jogado o envelope fora
com a outra. E como já estive lá pessoalmente, vi na sala deles que havia centenas
de ilustrações que nunca tinham sido devolvidas e que seria muito difícil
encontrar alguma coisa. Felizmente eu tinha fotografado a ilustração antes de
enviar.
Caso tenha
alguma dúvida ou quiser alguma opinião sobre o regulamento de algum concurso, fique à vontade para entrar em contato. 😉
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