Monday, November 18, 2013

O que o texto não diz

Em muitos textos infantis, às vezes a história se desenrola de um modo que não sabemos onde os personagens estão ou o que estão fazendo enquanto falam. Uma característica que gosto em algumas ilustrações é quando a ilustração diz algo a mais sobre a história, especialmente quando o texto não diz. Sempre que possível, tento ilustrar de um modo que não seja mera repetição do que diz o texto.

Por exemplo, no início do livro ‘A Busca de Aninha’, que ilustrei, os pais conversam com a filha e o texto não revela o que estão fazendo nem onde estão. Como Aninha tinha acabado de chegar da escola, já foi falando com o pai e a mãe sobre o seu dia. Como ela chegou? Alguém a trouxe? Ela foi sozinha? Estava de uniforme ou não? Sabemos que muitas crianças ainda vão à escola sozinhas, mas como nas grandes cidades geralmente são levadas pelos pais, ilustrei essa parte incluindo a mãe, como se ela tivesse ido buscar a menina. Nesse momento inicia-se a conversa entre os três (pai, mãe e filha) sobre o que aconteceu na escola e me perguntei: onde estavam? Na sala, no sofá? O diálogo era longo, o que tomaria algumas páginas. Considerei que as ilustrações seriam um pouco entendiantes se eles ficassem o tempo todo na sala conversando. Coloquei-me na situação deles: quando meus filhos chegam da escola, o que fazemos, em que lugar da casa estamos? Assim, ao invés de ilustrá-los somente conversando, resolvi incluir na história o que geralmente acontece em algumas famílias quando uma criança chega em casa depois da escola: uma refeição com os pais ou em família. Os personagens, durante o tempo em que estão conversando sobre o ‘problema’ que a menina precisa resolver, arrumam a mesa, comem e retiram os pratos.  Entretanto, desse momento da história, o que mais me chamou a atenção no texto foi o seguinte diálogo:

“— Ai, papai, estou tão nervosa... Não sei bem por onde começar! O senhor vai me ajudar, não vai?

— Pede pra mamãe, filhinha.

— Opa! Não me ponha nessa história. Eu não tenho vocação para detetive — disse a mãe já saindo de fininho.

— Xiii... Estou vendo que vai sobrar para mim — disse o pai já conformado com a nova missão.

— Oba! — exclamou Aninha. — O papai vai me ajudar. Que bom!”

Quando eu li esse texto pela primeira vez, fiquei um pouco impressionada com a atitude da mãe, ‘saindo de fininho’. Eu me perguntei: por que a mãe teria deixado de ajudar a filha? Fiquei me imaginando na situação. O que uma mãe tem tanto a fazer que resolve delegar ao pai essa tarefa com a filha? Para que o leitor não tivesse a sensação de que a mãe não queria ajudar a filha ou que tratou o seu problema com descaso, resolvi ilustrar a mãe levando os pratos para a pia, que já estava cheia de louça. Ou seja, podemos dizer que a ilustração ajudou a elucidar o motivo pelo qual a mãe não poderia ajudar a menina (na interpretação do ilustrador, pelo menos...). Não porque ela não queria, mas porque tinha outras tarefas a fazer.  Veja ilustração abaixo:




Finalizando, é importante ressaltar que essa 'liberdade' que tomei foi apresentada e aprovada pelo editor. Como já disse antes em outro post, todas as minhas ilustrações são apresentadas em forma de ‘rafes’ previamente e sempre aprovadas pela editora. Assim a editora tem a segurança de que não terá nenhuma surpresa e eu tenho a segurança de que não terei que refazer nenhuma ilustração.  

Friday, October 25, 2013

OFICINA DE ILUSTRAÇÃO NA FLIM - MEDIANEIRA

Ontem tive o prazer de ministrar uma oficina de ilustração de Hai Cais na Festa Literária do Colégio Medianeira. Foi uma experiência maravilhosa! Havia onze pessoas na oficina, todos muito animados e dedicados! 

Para começar, falamos um pouco sobre ilustração, cores, rafes, como é o meu processo de trabalho. Falei sobre as técnicas que eu uso e a partir daí os alunos escolheram os hai cais que desejavam ilustrar. A oficina deveria durar um hora, mas acabamos ficando quase três horas enquanto todos desenhavam, pintavam e trocavam experiências.

Agradeço a Alvaro Posselt, Gloria Kirinus, Rita de Cássia M. Alcaraz, Célia Cris Silva e Marilza Conceição por terem cedido os hai cais para a oficina!

Agradeço a presença dos alunos (se eu errar na grafia dos nomes, me desculpem, mas como só falamos e não escrevemos, pode acabar faltando ou sobrando alguma letra!): Priscila, Vivian, Lauren, Silvana, Lina, Vítor, Luciano, Natália, Isabella, Gabriela e Yury!

Obrigada ao Colégio Medianeira pela oportunidade!








Thursday, October 24, 2013

‘Meramente ilustrativo’ versus a ‘licença poética’ da ilustração


Como ilustradora, acredito que a ilustração em geral não visa apenas decorar um texto ou repetir o conteúdo através de imagens. Mais do que isso, tem como objetivo expressar sentimentos, elucidar aquilo que está nas entrelinhas, provocar até, entre outras funções. ‘Tanto é vero’ que existem livros sem texto e a ilustração fala por si. Seu objetivo não é retratar o mundo exatamente como ele é, mas dar ao leitor a possibilidade de questionar o texto, relacionar o mesmo à sua vida, fazer pensar, suscitar ideias, acompanhar e complementar o enredo. Se pensarmos que toda ilustração deve apenas retratar a realidade, acho não teríamos mais trabalho para ilustradores, mas para fotógrafos. É claro que existem os ilustradores que trabalham com imagens hiper-realistas (que acho fantásticas!), cujo objetivo é retratar o objeto exatamente como ele é. Mas neste caso, vamos falar de algo diferente. A ilustração é muito importante num livro infantil, porque muitas vezes a criança ainda não lê o texto, focando só nas imagens.

Nem sempre o ilustrador é considerado um autor, mas apenas um prestador de serviço. Isso é um equívoco, pois o ilustrador é o autor da imagem e deveria ser até considerado co-autor de um livro infantil. Aqui no Brasil, infelizmente, o ilustrador geralmente não tem o mesmo ‘status’ de um escritor. O escritor é visto como o verdadeiro autor do livro. Isso não acontece na Itália. Lá os dois são considerados autores e ambos os nomes aparecem na capa com a mesma fonte e também com o mesmo tamanho de fonte. E aqui ainda encontramos editores que se recusam a colocar o nome do ilustrador na capa a não ser que esteja previsto em contrato e ainda se dão o direito de modificar a sua ilustração sem lhe consultar. Infelizmente no nosso país o ilustrador ainda é tratado meramente como um ‘complementador’ do texto. Não estou dizendo que a ilustração é mais importante que o texto, mas que ambos ‘contam’ a história sob dois pontos de vista. É importante lembrar, porém, que devemos tomar cuidado para não criar uma ilustração que contradiga o que o texto está dizendo.

Como falei no post anterior, tomei a liberdade de ilustrar a personagem Formigarra com quatro patas. Por que fiz isso? A formiga que morreu de enfarte formigante no livro era a formiga comum, trabalhadeira, que não tinha nenhum momento de descanso ou lazer. O meu objetivo era poder diferenciar a formiga da Formigarra. A formiga comum está retratada sobre as seis patas e leva o alimento na ‘garrinha’. Já a Formigarra, criação de Gloria Kirinus, continua trabalhadeira, mas agora vê o mundo de outra forma, tendo seus momentos de ‘ócio criativo’. Retratada sempre em pé, está ‘humanizada’, visto que nós, seres humanos, temos somente quatro ‘patas’ e, no entanto, somos tidos como seres 'superiores' aos demais animais, ditos irracionais. Ela é mais que uma simples formiga, é uma formiga 2.0, sofreu uma transformação, uma metamorfose, é quem une o ‘útil ao agradável’, utilizando até a escalada para conseguir comida e o carrinho de rolimã para arar a terra. Não lhe são mais necessárias seis patas, pois o ‘pesado fardo’ que ela carregava não mais existe. Mais do que usar suas seis patas, agora utiliza o cérebro para resolver seus dilemas. Não deixou de ser trabalhadeira, mas buscou outras alternativas para sua própria vida. É o que podemos chamar de ‘licença poética’ da ilustração. 

Diferentemente do coco na bananeira, ressalto que, se o ilustrador tem a intenção de modificar algo do real, deve deixar bem claro que o fez. Só me dei o direito de eliminar duas pernas da Formigarra porque fica evidente para quem lê o livro de que a formiga comum tem seis patas e está retratada como tal. Ou seja, o leitor tem a possibilidade de ver os dois personagens e questionar o porquê da diferença. E eu pergunto: quando, na vida real, uma cigarra tocaria uma viola e uma formiga voaria de asa-delta? Isso não está escrito no texto, mas enfatiza o conteúdo não declarado na história. 

Formigarra/Cigamiga é um livro maravilhoso que foi escrito há muitos anos mas que trata de um assunto muito atual. O que a escritora da Formigarra/Cigamiga procura evidenciar é que o indivíduo não precisa ser só formiga trabalhadeira ou só cigarra seresteira, mas um misto de ambos, ou seja, enfatiza a busca do equilíbrio entre trabalho e lazer, tão necessária ao bem estar humano. E agora, tanto a Formigarra quanto a Cigamiga passam seus dias ‘tricotando’, trocando ideias, lembrando daquele tempo em que eram apenas cigarra e formiga ...

Wednesday, October 9, 2013

Ilustração e Pesquisa

Uma coisa que acho fascinante no mundo da ilustração é o fato de que ela carrega não somente uma imagem, mas também a ‘bagagem’ de quem ilustra. Tudo aquilo que você viveu, leu, aprendeu, experimentou, viu, apreciou, enfim, teve contato, faz parte da sua história e do que você foi, é e será. O que você desenha será grandemente afetado por todas essas experiências, sentimentos, sensações e conhecimento.

Ninguém sabe tudo, muito menos sobre tudo

Dizem que o especialista é alguém que sabe muito sobre muito pouco. Brincadeiras à parte, no que se refere a conhecimento e ilustração, quanto mais você se informar, maior será a possibilidade de criar algo realmente novo e interessante. Eu até me pergunto: como vamos imaginar algo se não obtivermos informações a respeito? Além disso, será que não corremos o risco de criar algo que já foi criado? E como saberemos se algo já foi criado se não pesquisarmos?

A pesquisa faz parte do trabalho do ilustrador. Para ilustrar, é muito importante que o ilustrador leia muito, informe-se, seja curioso...  A meu ver, não basta ler somente o texto que está sendo ilustrado, mas tudo o que esteja relacionado ao mesmo e o que mais for possível.

Vou dar alguns exemplos do que estou falando nas ilustrações que tenho realizado: uma vez me solicitaram uma ilustração para um texto que fazia referência ao livro ‘O sofá estampado’, de Lygia Bojunga. O texto falava do Tatu Vítor, mas não do sofá ou das cartas... Como eu poderia ilustrar um texto sobre o Tatu Vítor se não soubesse do que se tratava o livro ao qual se referia?  Será que não teria feito algo vazio, ou apenas teria repetido na imagem o que o texto narrava? O fato de eu ter conhecimento da obra que originou esse segundo texto possibilitou uma ilustração na qual inseri conteúdos que não tinham só a ver com o texto em questão, mas faziam referência à história original.

No livro O Jardim Diferente, do escritor Israel Belo, também por mim ilustrado, ele fala em ‘acácias, eucaliptos, ipês, oitis e urtigas’. Geralmente a ação do livro está relacionada aos personagens, mas neste trecho do livro ele estava falando do que havia no Jardim do Éden, então o foco estava mesmo nas árvores. Para desenhá-las, fiz uma pesquisa dos vários tipos citados e das cores. Eu nunca tinha visto um oiti até então (na verdade, nunca tinha ouvido nem falar em oitis). Cheguei até a trazer uma folhinha o oiti para casa. Foi interessante pesquisar sobre o assunto e desenhar tais árvores na mesma ilustração. Claro que desenhei no meu estilo, mas mesmo assim tive o cuidado de não somente desenhar árvores diferentes, mas que fossem ‘reconhecíveis’.

Em outro livro de Israel Belo, O Homem que Gostava de Enganar, procurei informações sobre a época em que as pessoas viviam, como eram as estampas das roupas das pessoas daquela região, o que comiam, etc. 

Hoje, com a internet, fica muito mais fácil pesquisar. Desenhar sobre assuntos aos quais não temos acesso é ainda mais complicado, portanto é necessário ainda mais pesquisa e leitura.

Por que estou falando sobre isso? Como eu já comentei em um post anterior, é estranho ver um coco numa bananeira. Isso aconteceu porque provavelmente a pessoa que realizou essa ilustração nunca viu uma bananeira ou um coqueiro e provavelmente não sabe diferenciá-los. Como era um livro traduzido para o português, utilizando as imagens originais, provavelmente o ilustrador não era brasileiro (e nem tinha o nome de quem ilustrou no livro!).

Para ilustrar a Formigarra/Cigamiga, consultei o livro Synthomas de Poesia na Infância, também da autora Gloria Kirinus. Neste livro há um capítulo que explica com mais detalhes do que se trata a Formigarra/Cigamiga e isso permitiu que eu pudesse ter mais liberdade e segurança para criar as ilustrações do livro.

Com tudo isso, estaria eu dizendo que não podemos ousar nas ilustrações? De modo algum. Eu gosto muuuuito quando vejo uma ilustração em que o ilustrador 'saiu do quadrado' e percebo que as crianças também curtem muito. Particularmente, costumam ser as minhas preferidas!

Um exemplo do fato de não seguir o real no meu trabalho é a personagem Formigarra. Os leitores vão perceber que a Formigarra é uma formiga que tem 4 patas, só que dentro do livro há formigas de 6 patas. Por que fiz isso? Eu vou explicar, mas no próximo post porque este já está muito looooongo...

Thursday, October 3, 2013

Oficina de Ilustração de Hai Cais na FLIM

Neste mês terei a oportunidade de ministrar uma oficina de ilustração de hai cais na Festa Literária do Colégio Medianeira, em Curitiba. Clique no link abaixo para saber mais. Data: 24 de outubro - 16:20h

Oficina de Ilustração de Hai Cais na FLIM - Festa Literária do Colégio Medianeira

Monday, September 30, 2013

Roughs – Rafes


O que são os Roughs? Também muito usada a palavra ‘rafes’, roughs são os esboços ou rascunhos das ilustrações, na maioria das vezes feitos a lápis.

Para que servem os rafes?

Cada pessoa que lê um texto imagina de um jeito. O editor, quando solicita um trabalho de ilustração, não tem ideia do que você está pensando. Como ele terá segurança de que o resultado final do seu trabalho irá de encontro às expectativas dele?

Quando recebo uma solicitação de orçamento, geralmente eu já estabeleço nas ‘condições’ que entregarei os rafes alguns dias depois de ter assinado o contrato e que, após a aprovação dos mesmos, as ilustrações não poderão ser mais alteradas sem ônus. O tempo de qualquer profissional, inclusive o ilustrador, é precioso e não podemos ficar alterando ilustrações prontas. Temos que passar para o próximo trabalho (ou prospecção, tratativas, negociação) pois é assim que pagamos nossas contas. Apesar de muitos pensarem que o ilustrador passa seus dias ‘rabiscando, desenhando, pintando’, isso não quer dizer que você deva trabalhar de graça.

Voltando aos rafes: Para entrar num acordo e não ter que mudar uma ilustração inteira na última hora, eu sempre faço os rafes a lápis de cada página. Digitalizo essas imagens, monto um arquivo com as mesmas, insiro os trechos do texto referentes às imagens e envio esse arquivo (em formato pdf) para a aprovação da editora (Isso dá trabalho, mas também já me rendeu benefícios!). Com esse arquivo, o editor não só visualiza como vai ficar o livro, como também tem a certeza de que você pensou em tudo e que não vão faltar páginas para itens importantes como os créditos e a folha de rosto, nem espaço para o texto em cada ilustração. Como mencionei no post anterior, esse arquivo é útil para o diagramador, que não terá dúvidas sobre o que fazer com o texto e a ordem das ilustrações. Somente a partir do momento em que foram aprovados por escrito (no mínimo por e-mail), passo a trabalhar nas ilustrações do livro. Na ilustração digital, é comum os editores solicitarem mudanças depois da mesma pronta, porém, numa ilustração feita com tinta acrílica, é praticamente impossível fazer alterações sem prejudicar a imagem final.

Portanto, o rafe é importantíssimo para o trabalho do ilustrador. Certamente há ilustradores que trabalham de outro modo. Mas eu prefiro ter a aprovação do cliente antes de me dedicar horas a uma ilustração e no fim ter que alterar porque não passou pelo crivo do editor. Posso dizer que tenho sido ‘abençoada’ e que, até agora, todos os meus rafes foram aprovados. Porém, isso não quer dizer que eu vá mudar o meu ‘modus operandi’. Prefiro continuar a fazê-los de modo a ter segurança de que a ilustração que estou fazendo não terá que ser refeita e que a editora sabe exatamente o que vai receber.

Outro aspecto muito importante do rafe é o que ele representa para o ilustrador. Um esboço nos ajuda a trabalhar sem a pressão da certeza. O que quero dizer com isso? Você pode criar livremente, errar, sem ter que se preocupar em entregar aquele trabalho. Pode refazê-lo e modificá-lo quantas vezes quiser, pode riscar e rabiscar por cima. É o que nos ajuda a desenvolver a ilustração. Enquanto desenho pensando no texto, também faço anotações de outras alternativas (cabelo, penteados, tipos de roupa, cor do fundo, pequenos detalhes no ambiente e nas roupas, características das pessoas, onde ficará o texto...). 

Por exemplo, na rafe da mamãe pegando o bebê abaixo, já pensei em fazê-lo chorando virado para o leitor, ou então em pé no berço, entre tantas outras opções.

Geralmente bem simples, abaixo alguns exemplos do como são os meus rafes.

(Se desejar, cadastre-se para acompanhar todas as postagens. Obrigada!)








Friday, September 20, 2013

Ilustração de Livro Infantil - Meu Processo de Trabalho


Muitas pessoas me perguntam como faço as minhas ilustrações. Algumas perguntam se são digitais, outras me perguntam como consegui ‘aquele’ efeito, outras não acreditam que eu ainda use materiais tão tradicionais como acrílico e pincéis. Eu até tenho uma mesa digitalizadora que é fantástica, e uso alguns softwares para alguns trabalhos, mas gosto mesmo é das tintas! Principalmente a tinta acrílica. É um tipo de material muito versátil e de secagem rápida, e gosto muito dos efeitos que me permite executar. Vou até falar mais sobre isso em outro post.

Mas como é que eu faço uma ilustração? Ou melhor, como é que eu organizo o meu trabalho de ilustração de um livro infantil, desde o comecinho?  Bem, eu gostaria de apresentar um pouco do meu processo de trabalho na ilustração de um livro infantil.

Análise do Texto, Story-Board e ‘Boneca’ do Livro

Tudo começa com o texto. Geralmente a editora me manda o texto e solicita um orçamento. O orçamento depende do número de páginas e do formato do livro. Também é importante ressaltar que o valor das ilustrações depende do uso da ilustração. Mas isso não vai entrar em discussão agora.

“Você lê o texto antes de ilustrar?”

Depois de acertado o orçamento, prazos, formatos, etc, eu leio o texto várias vezes (alguns trechos eu chego a memorizar de tanto ler) e tento imaginar o que o autor quer dizer com aquele trecho ou frase.  (Uma observação: eu leio tanto e comento tanto sobre o texto enquanto estou trabalhando nele, que até o meu marido acaba memorizando alguns trechos... eh, eh!).

Aqui gostaria de comentar sobre uma pergunta que me fizeram numa oficina de ilustrações: “Você lê o texto antes de ilustrar?” Bem, como eu poderia ilustrar algo se não sei do que se trata? E não basta ler só uma vez, a gente tem que ‘sentir’ o texto, de forma que depois possamos ‘traduzi-lo’ em imagens. A cada vez que lemos algo, descobrimos alguma novidade no texto. E, enquanto leio, faço também anotações referentes a outros textos, características dos personagens, sentimentos, lugares...  Também imagino o que os leitores vão pensar a respeito daquele trecho, que emoções estão sentido os personagens e quais emoções o texto vai suscitar nos leitores, como é o clima do momento, em que ambiente estariam ou não, se passou certo tempo na história, etc.

Ao mesmo tempo, faço muita pesquisa sobre o assunto do livro, sobre a época, roupas, hábitos, cores, moradias, tipo de vegetação (não é horrível ver um coco numa bananeira? Minha filha ganhou um livro assim) e até leio outros textos que tem afinidade.  Enquanto isso, já vou imaginando os personagens, o que vestiriam, traços físicos, faço alguns esboços, procuro referências visuais, não só para saber como poderiam ser, mas até mais para evitar a repetição do que já existe. Sobre animais, por exemplo, observo a anatomia, como é o corpo, suas cores e variações. Isso não quer dizer que o personagem que vou criar será hiper-realista, uma foto ‘autenticada’ do real.  Aliás, isso é o que eu acho mais interessante na ilustração, e vou dedicar um post a isso também.

A partir da leitura eu começo a dividir o texto pelo número de páginas. É importante lembrar que no livro há também a folha de rosto, os créditos, e às vezes até dedicatória. Mais do que um story-board, eu gosto de fazer uma ‘boneca’ do livro, onde faço anotações e alguns esboços. Também costumo imprimir o texto e colar os trechos nas folhas. Isso facilita não só a visualização da posição do texto, mas deixa o texto acessível para eu verificar sempre se a ilustração tem a ver com o texto daquela página. É um processo bem artesanal, talvez alguns considerem até meio ultrapassado, mas funciona bem para mim. Além desse processo físico, também costumo fazer a mesma coisa de modo digital: crio um ‘livro’ no computador, insiro o texto separado em cada página, e insiro os roughs (rafes) nas páginas. Esse arquivo é o que eu costumo enviar para a editora para a aprovação dos roughs. Além de apresentar visualmente a ideia do que pretendo fazer ao editor, esse arquivo também ajuda o diagramador a saber o trecho do texto que se refere a cada ilustração e o que deve colocar em cada página. 

Para finalizar, gostaria ainda de ressaltar: não sei como os outros ilustradores fazem. Esse é o processo de trabalho que eu executo. Se alguém fizer diferente e achar que existe um jeito melhor, mais bonito, mais fácil, mais eficiente, eficaz e efetivo, eu também quero saber! Me escreva! Vou gostar muito de ouvir seus comentários e sugestões! J

No próximo post eu vou falar sobre os rafes.

Tuesday, September 10, 2013

Formigarra / Cigamiga

De autoria de Gloria Kirinus, com ilustrações minhas, lançamento da Editora Paulinas.



Thursday, September 5, 2013

Oficina de Ilustrações - Bienal Internacional de Curitiba - 2013

Ontem, 4 de setembro, tive a satisfação de ministrar uma oficina de ilustrações na Livraria Poetria, integrando a Bienal Internacional de Curitiba. O objetivo era a ilustração de poesias. Eis abaixo algumas fotos do evento. Agradeço a todos os que participaram da oficina, pois enriqueceram o meu dia!





Friday, August 30, 2013

As Quatro Estações

Ilustração que fiz para o livro 'O Jardim Diferente', de Israel Belo de Azevedo, Editora United Press.

Tuesday, May 21, 2013

Cupcakes de Chocolate Ilustrados


Há algum tempo eu tinha vontade de ilustrar alguma receita. Inspirei-me em minha filha e no seu muffin favorito... e eis o resultado.

Tuesday, March 19, 2013

Tuesday, March 5, 2013


Ilustração realizada para o conto 'Una splendida gara', publicado na Revista Italiana 'L'Azione'.